segunda-feira, 28 de maio de 2012

Boémios

Podemos divertir-nos
até ao pôr do Sol
visto nas margens do silêncio
que fechámos em garrafas
descendo uma rua.

O chão estremece
com o ritmo dos nossos passos,
cruzados,
pesados num copo
com uma dança rodopiada.

Logo à noite,
lembrem-me de nos fotografar
em cigarros divididos,
palavras com fumo,
amigos boémios.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Do Avesso


Beber,
podemos beber um cigarro
e fumar um café;
Podemos acender um poema
e ler uma fogueira,
como loucos
que admiram as suas cicatrizes.

Dançam,
as sombras dançam
mais depressa que os próprios corpos
à volta de uma fogueira
e já cheira a fagulhas
e já cheira a cinza
e já se riem os amantes.

Sopra,
sopra-me o vento no cabelo,
o vento que cheira a Lírios
acabados de colher,
acabados de apodrecer,
acabados...

E riem-se de mim,
por escrever ao contrário
porque quero escrever
e porque chamo aos versos
coisas nunca antes ouvidas;
Mas não me importo,
sei que consigo ser lunática
e perder-me por entre letras.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Lua Cheia no Reino Maldito

Caía a noite na aldeia,
à Lua Cheia
uivavam os lobos dela senhores
que farejavam diariamente
os caminhos estranhos
percorridos pelas carroças reais
em fuga dum palácio assombrosamente belo

Queriam envenenar-me,
para que não pudesse aperceber-me
das atrocidades ali desenvolvidas
pelos servos loucos,
sem escrúpulos,
cavernosos,
que também eles sofriam nas mãos do Rei.

Ali,
as princesas tinham olhares
profundamente tristes
e os príncipes,
olhares podres e macabros;

Ali,
jaz a alegria,
a sete palmos daquilo que agora se vê
como silêncio
duma tristeza opaca.

Quis ser livre,
partir sem rumo certo
e lançar-me à incerteza dum novo mundo
pelo que murmurei:
- Nesta noite de Lua Cheia,
virarei costas ao Reino Maldito
e serei o que a poesia ditar.

terça-feira, 8 de maio de 2012




A quebra do silêncio,
contra a luz,
para que se possa ouvir
os passos da inocência
que se desenha de forma linear
ao caír da noite;

As sombras esfarrapadas
de memórias perturbadoras
enchem-me a cabeça
de coisas que ninguém sabe,
coisas ocultas,
inimagináveis,
que a cortina das pálpebras cobriu;

O ruído longínquo
que faz o voar dos corvos
sobre os corpos amontoados
das terras abandonadas,
desnutridas
e podres
por onde passei,
sem deixar rasto;

Entre as paredes ocas
que criei na minha cabeça,
esconde-se o feitiço lançado
sobre o céu,
agora de um Sol negro,
deixando para tráz tudo o que era puro
e que agora é farrapo de mim.

No final da nossa conversa sombria,
desenhei com os dedos,
em sufoco de ti,
a tua psicopatia necrófaga
em nome do silêncio...
...novamente.