segunda-feira, 30 de julho de 2012

Mater

                                                                                                                                                  a mãe,


Há relógios que marcaram
o nascer de nados mortos
em ponteiros elevados,
por horas inexistentes
e cegas de vida.

Houve um relógio que marcou
o nascer de um poema
que ainda não se escreveu
e que de olhos abertos
os fecha por um beijo de mãe.

Amo-te,
em qualquer relógio parado
distanciado dos nossos p u l s o s,
distanciadas as nossas m ã o s,
onze, doze, catorze, um.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Dia e Noite




Quero
ver o silêncio do tacto desaparecer
como uma núvem triste
e inútil
num dia de Verão radiante

A música é transparente
como inocentes discos velhos
num manuscrito ruidoso
aquando do amanhecer
junto da cidade adormecida

Quando há canetas
que dançam tristes
sobre paredes ilusórias
e frias,
eu acendo um fumo hilariante

E ao adormecer,
o sono e sonho
são sementes do desejo
incapaz de falar
quando calado pelas pálpebras solitárias.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Até já



Ela sabe,
ela sabe que um diairei ter com ela,
mais tarde ou mais cedo
mas para já,
quero adiar o encontro.

Pediu-me
que fosse bem vestida
pois temos muito que falar,
pôr os pontos nos i's
 e questionar o que seremos
sem termos medo do tempo.

Ela sabe,
ela sabe que um dia
me irá carregar nos braços
para me mostrar
a minha tumba
e como me esqueceram
para evitar a dor.

Disse-me
que não prometia amar-me
com o respeito com que a amo
porque sou uma esponja do pecado,
mas sei que ela até gosta
e que me quer para si,
um dia destes.

Ela sabe,
que tenho medo
e deixa-me ser jovem
porque não lhe escaparei;
e isto não é um adeus,
é um até já!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Era Uma Vez III



Era uma vez
uma casa plantada
no mar cintilante
em que te perdi na noite.

Esta casa,
contava histórias,
sorria e chorava
ao ritmo do bater das ondas.

Nesta casa se abrigavam
os contos dos marinheiros desaparecidos
que lá iam sem retorno
e que lá retornavam
sem nunca lá terem ido.

A casa de que falo,
já jorra sangue vermelho
com ranhuras pretas
sem as sombras do silêncio.

A casa do mar,
é o mistério dos livros não escritos,
é o girar das areias,
é o rasgar do céu,
é a penumbra de um sonho...

Foi na casa do mar
que nos tranquei a sós,
onde te conheci
e onde te esquecerei.