domingo, 28 de outubro de 2012

Amor de Morte


O amor
é um sentimento bifurcado
e uma vivência entusiasmante
quando beijamos o seu presente
sem conhecimento do seu fim.

O amor
é uma palavra simples,
de complicações longas
e acidentes imprevistos
pré-destinados, talvez.

Quando dizemos
que nos amamos,
o silêncio cai sobre nós
enquanto sonhamos
e caímos
até que a morte nos una.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

II



Sou a última página
de um livro esquecido;
Sou o vento,
a força das marés
e o som das árvores pela noite.

Contudo,
a navegação é neutra
perante o encanto
de uma floresta mística
que acolhe pensamentos
enquanto caminho e vagueio
descalça de medos

E misturando sentimentos
encontro doces embaraços
suspirando alívio com horror
por me ter perdido
sem te poder encontrar.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Corbeaux



...La nuit est toujours incertain et confus.

Bebo a noite
até à sua última gota
incansavelmente,
porque a madrugada é fria
e o amanhecer não me chega

Não sei se quero adormecer,
não sei se quero morrer,
mas os corvos persistem em sobrevoar
algo mais, algo vivo,
que sou eu, que fui eu

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pontos Desalinhados



A vontade é incandescente
e de passagem nas auroras boreais
que acolhem mendigos ao luar
quando desconhecemos o infinito

O sentido dos pontos cardeais
foi trocado noutros ímanes
indefinidos,
perdidos, talvez

Mas a leveza
dos pontos de interrogação
nunca é elaborada conscientemente
porque não há certeza
que defina o nascimento e a morte.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

I



A poesia consome-me de escrever,
rouba-me a mente e a caneta
transforma-se em mim
e foge para o meu caderno
apenas deslizando.

Um cinzeiro à espera,
uma luz rasgada,
um suspiro em quebra,
uma folha queimada
e um vento que mastigo.

As minhas mãos falam,
os meus olhos respiram;
enquanto fumo um cigarro,
pratico o gesto ambíguo
da vida e da morte.

Nem tudo
tem de ser coerente,
até quando mergulho na minha mente
e desenho o surreal,
posso curvar na vertical.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Rumo à Tempestade



A percepão do horror
tem vindo a entranhar-se em mim
tanto que sinto unhas de desespero
a fincarem-me a carne
nos maiores momentos de distracção.

Há uma boca que me chama
e outra que me cala;
por vezes são a mesma boca
ou até talvez o meu subconsiente
a ordenar-me atenção.

A voz é imperceptível
e tem vindo a desvanecer-se,
como uma tempestade
que percorre oceanos
na espera de atenuar a sua fúria,
acabando apenas como uma simples brisa.

Horripilantes são as palavras
quando se emaranham na tempestade
enquanto essa ainda não tem nome,
nem morada,
ou mesmo mares
que a façam parar de rodopiar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cidade Morta




As linhas da minha mão
assemelham-se a estradas
mas nelas,
vejo pouco chão que possa pisar
e as passadeiras flutuam
lânguidas como o vento

A minha cidade está morta;
de cada casa,
de cada detalhe urbano,
restam apenas sombras
que não sei distinguir

Quanto tempo passou,
quantos relógios morreram,
quantos corações ressequíram?

Quero degolar os meus pesadelos
até acordar e sentir frio
para me encolher
e adormecer novamente.

Ouvi...
o leve sopro de uma porta a abrir;
então, senti a tristeza do adeus
por saber que não haveria retorno
para a minha cidade que morreu.