domingo, 22 de dezembro de 2013

Máscara de Sanidade



Vagueio pelas ruas do silêncio.

A insanidade
invadiu-me abruptamente
e não posso dizer
que não bateu à porta antes de entrar.

Desconheço as ébrias moléculas do sono,
agora só sei que adormeço
quando não sonho
e o espelho não me mente.

Tento atrasar o relógio,
mas o perdão
está preso nas suas rodas dentadas
e o coelho relembra-me constantemente
que não me devo atrasar.

Por tudo isto
e nada mais que me lembre,
deixo este recado à consciência
no caso de um dia me curar.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Dos Sonhos



Sol de Inverno.
Promessas de anoitecer.
A mentira
de um sonho por escrever.

Questões colocadas
sobre rochas eruditas
que contemplamos na praia.

Ninguém nos proíbe,
ninguém nos protege.

E fechamos as janelas
com medo das sombras
quando apenas nos resta
a cortina da noite.

Pôr do Sol.
Beijos ao amanhecer.
Somos a mentira
de um sonho por escrever.

E mais uma vez nos debruçamos
sobre janelas de ferrugem
com medo das sombras.

Ninguém nos protege,
todos nos temem.

sábado, 14 de dezembro de 2013



Procuro
algo divino num horizonte
que nunca esperei alcançar.

Os teus olhos erradiam confiança
e da tua boca emergem palavras
que, embebidas em esperança,
constroem ema nova palavra,
um novo significado:
amor.

Em todos os abraços prometidos,
em cada gesto de incongruência
e nas mais desconhecidas raízes do corpo
me vejo reflectida em ti.

Somos frutos da palavra sagrada,
filhos de uma esmeralda
e segredos de lava
que só nós sabemos decifrar.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013



Fundiram-se
as luzes da ribalta
deste teatro a que chamamos vida:
a ausência virou costas
e o silêncio tomou conta da plateia;
o actor principal,
não sabe mais representar
mas as cortinas não se fecham.

A peça foi adiada
enquanto as lâmpadas são substituidas
e não se ouvem as pancadas de Molière:
até os cartazes das ruas
se desintegraram por falta de conhecimento
e actores inexperientes,
insuficientes,
da matéria da força.

E eu questiono:
Será que o teatro tem de morrer
até o artista se recompor?


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ausência em ponto de partida (sem chegada)



Dói-me a ausência,
o eco que ouço ao pronunciar o teu nome
fere-me os ouvidos,
afoga-me os olhos.

Partiste repentinamente,
levaste a inocência das coisas
deixando comigo apenas o silêncio
de todas as madrugadas que partilhámos
e todos os cigarros que nos uniram.

Sangro dos pensamentos,
morro a todo o instante
procurando reconhecer na língua
o paladar dos venenos que me beijaste,
procurando todas as molduras
que retêm o que de nós restou.

Nada é inválido
neste jogo insano que inventaste,
nada é triste
numa vida em que se nasce apenas para existir.

E eu ceguei para não te ver,
ceguei por te ver,
cairei no chão se voltar a ver-te.

Reflexo Quebrado



Cada olhar traz um beijo,
cada beijo traz uma promessa
e cada promessa vem cheia de nada,
esperanças ilimitadas,
palavras sem significado
mas relíquias para uma vida.

Cada amigo traz um abraço,
cada abraço traz um sentimento
e cada sentimento traz uma tristeza:
ver tantos comboios a partir
e permanecer sempre
à espera de um dia melhor,
mais reconfortante.

Inclinei-me para o abismo
e vi-me reflectida nas águas da fuga
deixando cair uma onda no reflexo,
quebrando-o
de tudo o que alguma vez possa ter sido.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Facadas no tempo

" Um incêndio nas
pegadas desmesuradas
do peso e a àgua
a lambê-lo !
Um cabelo mágico
deserto , acolhe o ido
e conforta .
... Enforcados no fio
do martelo que parte
os vidros de emergência ...
Que miséria se desaqua ...
Todo um motivo
para preencher uma ampulheta
inexistente vazia ...
There'll be blood
... Saudades de quem ?! ... " (Ala Crime)


Saudades de ninguém!
Apenas as memórias silenciadas
em pedras da calçada
quando se olha em direcção ao chão,
porque o caminho em frente assusta
...o medo...
o tempo passa,
os relógios chiam de dor pela manhã
porque também acordar de bons sonhos é amargo,
ao cair da cama para a realidade!
Oh sim, meu irmão pirata,
as lágrimas de mar que bebemos
são abençoadas por cada rum que brindamos
com elas lá dentro,
de cabeça erguida
e coração caído!


com Pedro Ala Crime

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Imaginarium

- Não hei-de morrer com uma garrafa de vinho na mão
e uma caneta no bolso...


Sinto-me febril...
a neblina matinal dá-me náuseas,
adoeci para o mundo,
morri para ti,
não me esqueci de mim.

Sinto-me febril...
engoli o veneno do teu corpo
e quis curar-me no antídoto dos teus lábios
porque não te quis procurar
mas encontrei-te.

Sinto-me febril...
plantei cobras e fui mordida,
colhi e comi os frutos amargos da Primavera
porque nunca te quis, nunca te tive
mas ordenei que me deixasses.

Já não sinto,
já não escrevo,
nem durmo de olhos abertos
imaginando todos os teus pesadelos

num céu de véu púrpura.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sopor Aeternus




- Para ti que dormes nos parapeitos das montanhas à noite,
que te aconchegas nas ondas do mar...


Beberei
todas as lágrimas de chumbo
que a culpa acarreta,
todas as mágoas dos segredos
escondidos na névoa dos meus olhos.

Fecharei os olhos
até tudo se apagar,
até adormecer num sono profundo
quando ouvir suspirar
...sopor aeternus...

Em todas as lágrimas embriagadas que encontrei,
derramei o amor gota a gota
porque nada mais cabe no silêncio
que a incerteza de não o ouvir!

E de todas as portas que se abrirem,
alguma há-de ranger um nome
porque nada mais cabe no silêncio
senão o lado negro de uma luz.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pelo Caminho do Desassossego




Entrei em cofres secretos
selados a perfume
de palavras assobiadas pelo vento
em troncos escritos pelas unhas do amor
quando os seus ramos tentavam beijar o lago.

Descobri na mais pura beleza morta
toda a frieza acolhedora de um silêncio pintado:
porque é efémera a pulsação,
tal é o impulso de um salto retido
e de um passo para trás.

Em todos os horizontes
existem futuros animais selvagens
fruto de uma liberdade condicionada pelo desassossego.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sem título de escrita



Falo com a Lua,
ela nada me conta e eu tudo lhe confesso.
As noites são solitárias
mas ainda ouço o teu pensamento.

Sei,
quantos ninhos as aves da Primavera construíram
quantas casas desabaram quando fechei os olhos
e quantas ondas o mar gritou
por cada barco que naufragou.

Sei das mãos que se fecharam contra uma parede
quando recônditos segredos voaram no eco
e por que o vinho foi derramado dos copos
antes de engolir os vidros do amor.

Não sei,
quantas flores morreram antes de o Sol sorrir,
quantos anéis ficaram sem abrigo
ou quantas cartas não tinham destinatário
quando o tempo perdeu o relógio.

Desconheço os fragmentos do céu
e as cores do desejo:
ainda moro no quadro que queimaste
antes de ser obra de um pincel.

domingo, 5 de maio de 2013

Amor de Morte III




Há que limar todas as arestas
para cada circulo vulcânico que atravessamos
sem que as fagulhas nos toquem os lábios
que flamejam fulminantes sem se ver
e se tocam sem se olhar.

Existem promessas silenciadas em montanhas
por todos os segredos que contemos
no fim das lágrimas de um beijo
quando com as mãos nos cortámos
para podermos partir juntos.

A inocência ficou caída entre rosas,
massacrada pela morte de várias palavras
e ferida pela crueldade da ausência
- onde ter-te era uma obrigação
e perder-te foi uma facada.

Quem venenos bebeu,
com água não se curou!
As nossas cartas de amor, despedida e ódio
voltaram para a fogueira,
e tal como os venenos,
o nosso amor nunca terá uma cura.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Les Regrets




Les regrets, trop de regrets
e o tempo que ficou preso entre nós
com todas as memórias
que tentaram escapar-nos por entre os dedos
sem qualquer certeza
e restos de amor.

Le temps, qui n'exist pas
e as longas conversas nocturnas
com planos que caíram ao chão e se quebraram,
como promessas inacabadas
e túmulos de quem morreu sem corpo.

L'espoir, le silence
quando pensámos desconhecer todos os caminhos
e aí permanecemos sem saída
deixando fechado num livro secreto
todo um complexo jogo de palavras
em nome de futuras tempestades.

Crescendo




Desperto os meus cinco sentidos
e faço-os girar em torno de lugares perdidos
mas onde neles me encontrarei.

Não,
não perdi a inocência de um amor devastador
nem os desenhos da ardente esperança,
inquietatante nas raízes dos olhos
e ausente na fúria do sono!;

Simplesmente oculto o sangue que me fervilha,
preso numa semente impedida de crescer
e que, a nós amarrada, já não nos esquece:
- Quantas sementes se guardam por época
sem se dar término às épocas?

Noutro tempo,
noutra Primavera,
noutros jardins proibidos
e sempre na mesma germinação
eu partirei para o fatal reencontro.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O'diamar



Amar-te,
amar-te pela noite dentro
como suspiros presos nas margens de miragens
porque a chama que nos consome
integra todo um antídoto venenoso
dentro de um ciclo vicioso.

Odiar-te,
afastar-te de mãos leves e braços caídos
como amantes de livros velhos
esquecidos em clavículas arranhadas
pelo sabor do suor que te escorre pelo corpo
em viagens desesperadas.

Fiquemos apenas comprimidos no desejo,
passageiro do comboio da madrugada,
louco como os mitos da solidão
e faminto como cadáveres canibais
que somos sem confessar.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Partir na noite



Wo  bist du?...
Wann kommst du?...

No crepúsculo dos desentendimentos
aguardo as flores de gelo chegarem
nos precipícios do silêncio
e pelo gesto impraticável
que um dia se tornou pecaminoso;

As capas negras da meia-noite
cobrem a lua em quarto crescente
após os infortúnios dos jardins esquecidos
e a palavra desconhecida que procuramos;

O negrume da noite
e as luzes de barcos abandonados
mostram malas vazias
deixadas à porta da fuga:
mais vale partir
que respirar a incerteza da permanência.

domingo, 31 de março de 2013

Vagueadora da mente


I

Escuto os segredos das paredes
e durmo nas portas dos desconhecidos;
as âncoras da incógnita
prendem-me à noite

Quantas angustias se perderam
desde que partiste?
Já não há barcos no cais
e prometeste-me que voltavas.


II

Perdi-me no tempo,
mais uma vez,
à espera das prováveis chamas
que levassem a minha incapacidade de ser:
descarrilei,
morri para outro mundo.


III

A escrita
é a minha solitária amiga
das noites de Sábado,
depois de todos os bares fecharem
e eu saber que já nada de traz de volta...
e eu perdi o chapéu da consciência!...


IV

Entrego-me agora
aos trilhos do frágil veneno
que me fizeste amar,
sem olhar para casas vazias
nem vidas sem sentido;

Parti com um ramo de rosas
e regresso para te devolver os espinhos.

Madrugada



Ouço a chuva cair...
ela bate-me na janela
como pequenos fragmentos do que sou,
irrelevante perante os venenos que bebi,
acesa em todos os meus pensamentos

A Primavera dos sentimentos
é apenas um mito para esquecer
em todos os céus que me caíram aos pés
enquanto me esquecia para beber
e o tempo passava
como silêncios destemidos

Todas as cadeiras onde me sentei
e os sofás onde adormeci,
carregam sonhos escondidos
em que nunca dormi,
para além dos sonhos que nunca sonhei

Na verdade,
todas as canetas falam,
escrevem
e ardem inexplicavelmente
como brisas de ar puro
que invadem os cigarros...

A realidade é um ponto dimensional
no qual pensamos nos encaixarmos
sem nada entendermos:
tudo é surreal,
incluindo o facto de estarmos vivos

E não,
não sustenho a respiração envenenada
em cada livro que não leio:
folheio as páginas da vida,
enroladas em sobriedade,
de forma a morrer novamente.

domingo, 24 de março de 2013

Confissões nocturnas



Há duas longas horas que tento ecsrever,
mas nada me sai da caneta
desde que te esqueci,
meu amor.

Prometo que já não passo pela tua casa,
até porque os meus sapatos avariaram,
sabes,
eles cansaram-se de caminhar em vão.

A hora do pôr-do-Sol aproxima-se
e eu estou sozinha,
sentada num rochedo erudito
na esperança de ver o teu rosto
reflectido no mar imenso em que me banho,
para te esquecer de novo.

Mas confesso,
não consigo lavar-te da minha pele:
a intensidade dos teus olhos cor-de-azeitona
perfurou a minha pele e entranhou-se nela;
confesso ainda que não te esqueci
e que já consegui escrever:
apenas queimei aquelas folhas de papel pergaminho
na tentativa de engolir o silêncio.

sábado, 23 de março de 2013

Pecado imortal




Os dias vão passando
e os rios vão fluindo cada vez mais tristes,
notando a corrente que se avizinha,
acabando por desaguar no teu nome.

Perdi a conta aos olhares que trocámos
e quantos não ficaram perdidos
apenas por olharmos as bocas,
ardendo apenas em desejos fatais.

Existem corvos por toda a parte
esperando a hora da nossa morte,
pedindo só um pedaço de carne destroçada
enquanto a noite chega.

Ah!,
se eu tivesse a certeza do pecado,
perderia o medo de uma freira novata
e voltaria para os braços de quem me ama,
pedindo para me levar...
...para longe!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Definitivamente




Na improbabilidade de nos reduzirmos a silêncios
e nos desfazermos em cinzas cristalizadas,
garanto o poder da palavra amor
escrito na linha de um comboio que nunca partiu
mas que por aqui já passou.

Possuo todas as mágoas das janelas cortantes
perto das ruas por onde passaste quando partiste
(ainda leio a tua carta de despedida,
selada a gritos de desespero)
e bebo as lágrimas de um corvo
porque o vinho já não é suficiente.

Ainda tenho uma fatia de nada
algures na nossa mesa de cabeceira,
enrolada em memórias que irão desaparecer:
guarda o crisântemo que te ofereci
e não voltes a escrever-me em breve.

sábado, 9 de março de 2013

Floresta da sabedoria




As árvores que me amam
despiram-se pela minha tristeza,
para esconderem as lágrimas do meu corpo
(sinto-me febril,
quero fugir e esconder-me).

Na densa floresta
que suspira o meu nome por entre ramos,
descobri os três caminhos
dos quais só um escolheria:
optei pelo quarto,
aquele que eu mesma abri para seguir
(está escuro,
vejo tudo embaciado e perdi os sentidos).

Senti uma pancada forte:
um enorme relógio de bolso
acertou cudidadosamente a minha nuca
e em tic-tac's,
explicou-me que é necessário adormecer,
hibernar,
ausentar-me
(até ele me despertar
só quando a minha mente acordar).

segunda-feira, 4 de março de 2013

Amor de Morte II



Mata-me,
mata-me com subtileza
e contempla o meu sangue
jorrado nas paredes do nosso apartamento.

Mata-me, 
porque os amantes de todo o mundo
ainda mastigam vidros estilhaçados
em memória dos corações partidos.

Mata-me,
já não reconheço o teu olhar
desde que cortaste a minha mão
proibindo-me de te tocar,
renegando os calafrios que nunca sentiste.

E mata-me novamente,
porque nunca é suficiente morrer uma só vez;
há que ocultar os cadáveres 
e esmagar as lágrimas da perda
deixando-nos morrer mais um segundo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Alguns patamares, por vezes o (p)ódio




Todos os dias acordo com objectivos:
uns dias mais,
outros dias menos;
vou subindo na escada que construo na minha cabeça
e os degraus parecem infinitos
porque nunca chego ao pódio
mas às vezes ao ódio.

Eins, zwei, drei...
...o primeiro lugar raramente é meu,
em segundo lugar está a minha insatisfação
e o terceiro lugar pertence à minha consciência.

Subo, desço
desço e subo,
as escadas desfazem-se,
eu apresso-me para a perfeição
e quando chego ao topo,
o Sol cega-me temporariamente.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Eu comigo




Entranho-me na noite
como uma nuvem negra é uma nódoa no céu
(ainda bem que hoje não acendi a luz
pois assim a noite é mais bela ainda).

Dos meus segredos eu não falo,
mas evoco memórias deles
e invoco os todos os seus nomes
quando sobre eles choro...

- Desculpe, tem lume?

Converso comigo mesma
e procuro as coisas
onde sei que não estão.

Ora!
Que mais pode ferir a minha reflexão,
se não a ausência do silêncio?

Fechei a porta do mundo
e adormeci aconchegada na noite.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Estações de amor



O rigoroso Inverno que passei a teu lado,
já foi com ventos e tempestades
até à beleza ínfima de um campo de flores
com poemas e sentimentos em tons de preto,
de todas as cores.

As folhas caíram
e eu esqueci-me de ti
como uma Primavera triste.

A neve caiu
e cobriu a minha amargura
como uma criança perdida no tempo
quando o seu balão se foi.

- Quantas estações passámos
sem nos despedirmos?

Espero pelo próximo vento
e que ele me traga letras do meu nome
esmagadas na tua boca silenciada.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Nove e trinta e cinco




Há que aprender a conviver com a solidão
- soltar-me do que me prende,
agarrar na poesia e fugir.

Nada é tão inquietante
como a ideia de soltar uma lágrima
sentindo que ela cairá no vazio,
na dimensão obscura
de um pensamento insone.

Sim,
estremeço da cabeça aos pés
quando a cicatriz daquela facada
me acorda com bofetadas.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Fatal para imortal



A imortalidade dos sentimentos atormenta-nos
quando eles permanecem
e nós morremos.

Um amargo nome escrito no chão,
um veneno fatal,
os escapes às insónias de pálpebras pesadas,
a depressão do olhar,
silêncio!: o amor está a falar.

E quando sorrimos
perdidos e entristecidos no tempo
ao recordar a união dos nossos corpos joviais,
transpirados de luxúria em madrugadas absurdas,
acordamos de um pesadelo que tanto desejámos.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

sem título




Dei um último tiro no escuro:
acertei na solidão,
sem voz para me responder,
sem paciência para me escutar
- a bala passou-lhe ao lado -
e a arma estava descarregada.

Não conheço amor maior
que aquele que nunca é conhecido,
que morre antes de nascer,
que seca à beira de um rio qualquer.
Então,
o verdadeiro amor
é o desconhecido.

Ao testemunhar o silêncio
dos momentos idos,
das constantes insónias amargas,
da perda da pureza,
reconheço
a eterna beleza das coisas.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Eras



Sobre as águas de um rio,
os coágulos da eternidade
dissolveram-se cintilantes
como os teus olhos
perdidos nos arbustos de uma floresta.

Rejuvenesci
como pétalas morrediças,
pintando um planalto
com as cores de espíritos viajantes
por quem não morri.

Na era dos liláses,
na época das laranjas,
no tempo dos sorrisos...
e eu estou velha
como os tempos!...