segunda-feira, 25 de junho de 2012

Palavras Fugidas


A luz cemiterial
que incide sobre o teu corpo,
perfeitamente inclinado
num abismo cego pela sede
vai-se tornando num cofre
cada vez mais protegido
da nossa erosão.

E guardas,
entre o fôlego dos dedos,
a vontade do ser saber
correr sem parar,
amar a noite no fumo
que nos cobriu sensual
quando o secreto se elevou
e as nuvens se fizeram chover.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Finalizarei este poema





Quando o céu ficar sem teto,
as flores ficarem sem pólen,
as àrvores sem madeira
e os pássaros sem penas...


Quando o dia for a noite,
as praias os desertos,
as montanhas se tornarem planas
e do mar restar apenas o sal...


Quando os tapetes ficarem sem chão,
as paredes forem apenas tinta,
as portas trancadas se abrirem num sopro
e as janelas forem ocas...


Quando o sósia do amor for o ódio,
sem a vigilia dos olhos mudos
e estiver apenas a vaguear...


Hei-de encontrar uma linha final
para este poema.

terça-feira, 12 de junho de 2012



Caio sobre mim mesma
num vazio encurralado
de palavras luminosas
com a sombra dos teus pés
que me pisam como se eu fosse
um chão de rosas cruzadas.

Derrubo-me sozinha
ao som da decadência
que te deixei escrita
em papel pergaminho
enquanto me fundia com a noite.

Podes guardar o silêncio
onde quiseres,
até mesmo no bolso roto
que te ofereci em fraqueza
com um Adeus de lábios mudos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Realidade Distorcida


Inventei palavras
e escrevi-as no tecto,
ao contrário,
como se fossem um código
apenas decifrável por cegos.

Fiz a Terra ser quadrada
e sem gravidade,
para que todos flutuássemos
como penas à deriva.

Vi um carro sem rodas,
em estranhos tons de roxo,
que andava na perfeição
com a imperfeição do tempo.

Até consegui apanhar uma laranja
sem casca
que me parecia estranha
mas doce como mel,
mel amargo.

Eis que o despertador tocou
e um silêncio ensurdecedor
invadiu a distância
entre a realidade
e o sonho.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Era Uma Vez II


Era uma vez
uma criança
que brincava sozinha
como um relógio de corda.

Na rua,
de manhã à noite,
fizesse chuva ou Sol,
lá estava a criança
a brincar alegremente.

Esta criança,
tinha tanta alegria
que dava vida aos seus brinquedos
tirando-os da banalidade.

Esta,
era uma criança diferente
pois sabia estar sozinha,
com a alegria dum infantário,
sorrindo para o Sol.

A criança de que falo,
tinha um adulto no coração
e no cérebro,
e sabia como se comportar
sem ser repreendida.

Eu não tenho pena da criança,
por ser mais solitária
que uma flor no deserto;
eu amo esta criança
porque ela ama a solidão.

Era Uma Vez I



Era uma vez
duas cadeiras
que se balouçavam sozinhas
em movimentos bizarros
que nem o Diabo poderia explicar.

Estas duas cadeiras,
aparentemente enfeitiçadas
e cobertas de teias,
até poderiam ser belas
mas não o são.

Estas duas cadeiras,
poderiam ser três
mas por serem tão estranhas,
são apenas duas
e não mais.

Estas duas cadeiras...
...eu poderia sentar-me numa delas
mas receio-as pelos seus movimentos
de carácter surreal
e sombrio.

Estas duas cadeiras
nem têm sombra,
nem cor,
nem alma,
nem são feitas de nada
que se possa descrever.