domingo, 31 de março de 2013

Vagueadora da mente


I

Escuto os segredos das paredes
e durmo nas portas dos desconhecidos;
as âncoras da incógnita
prendem-me à noite

Quantas angustias se perderam
desde que partiste?
Já não há barcos no cais
e prometeste-me que voltavas.


II

Perdi-me no tempo,
mais uma vez,
à espera das prováveis chamas
que levassem a minha incapacidade de ser:
descarrilei,
morri para outro mundo.


III

A escrita
é a minha solitária amiga
das noites de Sábado,
depois de todos os bares fecharem
e eu saber que já nada de traz de volta...
e eu perdi o chapéu da consciência!...


IV

Entrego-me agora
aos trilhos do frágil veneno
que me fizeste amar,
sem olhar para casas vazias
nem vidas sem sentido;

Parti com um ramo de rosas
e regresso para te devolver os espinhos.

Madrugada



Ouço a chuva cair...
ela bate-me na janela
como pequenos fragmentos do que sou,
irrelevante perante os venenos que bebi,
acesa em todos os meus pensamentos

A Primavera dos sentimentos
é apenas um mito para esquecer
em todos os céus que me caíram aos pés
enquanto me esquecia para beber
e o tempo passava
como silêncios destemidos

Todas as cadeiras onde me sentei
e os sofás onde adormeci,
carregam sonhos escondidos
em que nunca dormi,
para além dos sonhos que nunca sonhei

Na verdade,
todas as canetas falam,
escrevem
e ardem inexplicavelmente
como brisas de ar puro
que invadem os cigarros...

A realidade é um ponto dimensional
no qual pensamos nos encaixarmos
sem nada entendermos:
tudo é surreal,
incluindo o facto de estarmos vivos

E não,
não sustenho a respiração envenenada
em cada livro que não leio:
folheio as páginas da vida,
enroladas em sobriedade,
de forma a morrer novamente.

domingo, 24 de março de 2013

Confissões nocturnas



Há duas longas horas que tento ecsrever,
mas nada me sai da caneta
desde que te esqueci,
meu amor.

Prometo que já não passo pela tua casa,
até porque os meus sapatos avariaram,
sabes,
eles cansaram-se de caminhar em vão.

A hora do pôr-do-Sol aproxima-se
e eu estou sozinha,
sentada num rochedo erudito
na esperança de ver o teu rosto
reflectido no mar imenso em que me banho,
para te esquecer de novo.

Mas confesso,
não consigo lavar-te da minha pele:
a intensidade dos teus olhos cor-de-azeitona
perfurou a minha pele e entranhou-se nela;
confesso ainda que não te esqueci
e que já consegui escrever:
apenas queimei aquelas folhas de papel pergaminho
na tentativa de engolir o silêncio.

sábado, 23 de março de 2013

Pecado imortal




Os dias vão passando
e os rios vão fluindo cada vez mais tristes,
notando a corrente que se avizinha,
acabando por desaguar no teu nome.

Perdi a conta aos olhares que trocámos
e quantos não ficaram perdidos
apenas por olharmos as bocas,
ardendo apenas em desejos fatais.

Existem corvos por toda a parte
esperando a hora da nossa morte,
pedindo só um pedaço de carne destroçada
enquanto a noite chega.

Ah!,
se eu tivesse a certeza do pecado,
perderia o medo de uma freira novata
e voltaria para os braços de quem me ama,
pedindo para me levar...
...para longe!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Definitivamente




Na improbabilidade de nos reduzirmos a silêncios
e nos desfazermos em cinzas cristalizadas,
garanto o poder da palavra amor
escrito na linha de um comboio que nunca partiu
mas que por aqui já passou.

Possuo todas as mágoas das janelas cortantes
perto das ruas por onde passaste quando partiste
(ainda leio a tua carta de despedida,
selada a gritos de desespero)
e bebo as lágrimas de um corvo
porque o vinho já não é suficiente.

Ainda tenho uma fatia de nada
algures na nossa mesa de cabeceira,
enrolada em memórias que irão desaparecer:
guarda o crisântemo que te ofereci
e não voltes a escrever-me em breve.

sábado, 9 de março de 2013

Floresta da sabedoria




As árvores que me amam
despiram-se pela minha tristeza,
para esconderem as lágrimas do meu corpo
(sinto-me febril,
quero fugir e esconder-me).

Na densa floresta
que suspira o meu nome por entre ramos,
descobri os três caminhos
dos quais só um escolheria:
optei pelo quarto,
aquele que eu mesma abri para seguir
(está escuro,
vejo tudo embaciado e perdi os sentidos).

Senti uma pancada forte:
um enorme relógio de bolso
acertou cudidadosamente a minha nuca
e em tic-tac's,
explicou-me que é necessário adormecer,
hibernar,
ausentar-me
(até ele me despertar
só quando a minha mente acordar).

segunda-feira, 4 de março de 2013

Amor de Morte II



Mata-me,
mata-me com subtileza
e contempla o meu sangue
jorrado nas paredes do nosso apartamento.

Mata-me, 
porque os amantes de todo o mundo
ainda mastigam vidros estilhaçados
em memória dos corações partidos.

Mata-me,
já não reconheço o teu olhar
desde que cortaste a minha mão
proibindo-me de te tocar,
renegando os calafrios que nunca sentiste.

E mata-me novamente,
porque nunca é suficiente morrer uma só vez;
há que ocultar os cadáveres 
e esmagar as lágrimas da perda
deixando-nos morrer mais um segundo.