sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Acordar




Façamos uma paragem no sono;
os sonhos acordados são importantes
e as miragens duvidosas
serão sempre questionáveis
porque daqui nada se leva certo:
nem o respirar debaixo de água
nem o ver de olhos vendados

Olhemos em volta;
não existe pureza nas cores
mas a insegurança de sussurar
porque a palavra grita,
mesmo quando calada ou cortada;

E os nomes das coisas
estão submersos na sua complexidade
sob uma condição de existência.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012




Qualquer nota musical
poderia soltar uma lágrima
num cântico, num piano,
num violino, numa guitarra,
num abismo, numa sala oca

Qualquer dança
poderia morrer,
nos braços de um beijo de adeus,
nos pés de quem a pisa,
na prisão de uma fotografia

O par perfeito,
o par eleito,
a música acompanhada da dança
como que um libertar de sentimentos
usando o silêncio da boca.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Marie Onette



Somos fantoches
nas mãos das estrelas
que nos murmuram luar
enquanto voamos livremente
em sonhos por acordar
e rotações contrárias à vontade

São os loucos
todos os que nos iluminam
com a verdade por desenterrar
tentando sucumbir
e negando-nos a submissão escrava
quase mortos de inocência

Insanos nos erguemos
como castelos de areia
perdidos entre os dedos
que se desmoronam
soterrando a realidade

E na fantasia,
morrem os fantoches
num misto de agonia e felicidade
deixada ao acaso
no eclipse do tempo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Imperfeições Compassadas



Chama-me, chamo-te,
pelo calor das mãos desajeitadas
procurando a imperfeição plana
da natureza morta
à superficie da pele;

Há pormenores nas feições do tempo
espalhadas por jardins proíbidos
que desconhecemos de caminhar
no reverso das palavras,
no reverso dos beijos;

As nossas imperfeições
são compassadas por fim
no inicio de cada dia,
no pico de cada montanha
ainda longe de nos alcançar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Além Inverno




Enquanto as dentaduras do tempo
esperam pela sua hora certa
de fuga constante,
desespero pelo respirar dos dias
sem os ver passar cortantes
sabendo quando vou precisar
da sua maldade e veneno intrínsecos
para me erguer novamente.

Os crepúsculos estagnaram;
à minha vista periférica,
de quando sabia analisar
a dança dos papéis rasgados
e das folhas de Outono,
avisto que esperam por mim além
umas carruagens trovejosas
de um comboio fantasma.

Sei que pode não ser Inverno,
mas a ausência...
do que tomava por amanhã,
de mãos atadas com as costas do mundo,
faz-me crer piamente
que haverá pegadas no céu
quando a chuva nos fizer cair.